Importância da tensão mecânica na reparação de fraturas ósseas

Importância da tensão mecânica na reparação de fraturas ósseas

Fraturas ósseas representam um problema de saúde geral cada vez mais comum e com um impacto negativo significativo para muitos indivíduos. Além da ausência no trabalho e diminuição da produtividade, as fraturas podem levar à incapacidade e deterioração da qualidade de vida, tanto durante quanto após o período de reabilitação.

O processo de reparação óssea consiste em fases cronológicas e sobrepostas. Primeiro, forma-se um hematoma nos primeiros dias, seguido pelo desenvolvimento de um calo ósseo, cuja ossificação inicia cerca de três meses depois. A última fase é a remodelação deste calo ósseo, cujo fator determinante para a formação e reorganização estrutural do osso é a tensão mecânica.

Como tensão mecânica, estão a ser incluídas as forças exercidas na estrutura óssea que pode ser por impacto no solo, como simplesmente pousar o pé no chão e sustentar o peso corporal ou caminhar e correr.

Mas quando é que se deve começar a pousar o pé no chão e deixar que a perna afetada pela fratura comece a sustentar o peso do corpo?

Existem muitas opiniões sobre este assunto. Em fraturas do prato tibial, em que é necessária cirurgia para redução da fratura, alguns profissionais sugerem realizar suporte parcial logo após a operação. Outros defendem que se deve esperar um período de 16 semanas. Este intervalo grande justifica-se pela preocupação com o risco de perda da redução da fratura. No entanto, está comprovado que ao atrasar o suporte de peso, a mobilidade do paciente ficará atrasada e, por consequência, a capacidade em voltar às atividades da vida diária será limitada.

Restringir o suporte de peso pode causar atrofia muscular, redução de massa e resistência óssea, degradação da cartilagem e rigidez nas articulações. Em resumo, se a reabilitação de uma fratura for excessivamente prolongada devida ao receio de aplicar carga no membro, isso pode resultar em sérias consequências para outros tecidos. Isso, por sua vez, pode atrasar a recuperação funcional do indivíduo.

Para além dos impactos adversos que surgem da redução da tensão mecânica nos nossos tecidos, podemos também explicar a sua importância de um ponto de vista fisiológico. Investigações científicas mostram que tensão mecânica acelera a cicatrização dos tecidos ósseo, fibroso e muscular. A matriz destes tecidos responde a determinados padrões de carga aumentando a sua síntese e, em muitos casos, alterando a sua composição, organização e propriedades mecânicas. Resumindo, aplicar carga aos tecidos, de maneira controlada e progressiva, representa a abordagem mais eficaz no tratamento de lesões musculoesqueléticas.

Por outro lado, quando referimos a uma perspetiva sem lesões ósseas, sabendo que o esqueleto também é impactado pela força das contrações musculares, realizou-se um estudo que comparou as alterações na densidade mineral óssea (DMO) em atividades de impacto no solo (ex.: caminhar, correr) e em atividades sem impacto (ex.: levantamento de pesos, remo) em mulheres no período pós-menopausa. Concluíram que os dois tipos de exercício tiveram aumentos comparáveis na DMO da coluna e da anca, mas o grupo de impacto teve aumentos no colo do fémur, região muito comum de fratura osteoporótica. Ou seja, cargas oriundas do suporte do peso corporal ou das contrações musculares têm benefícios semelhantes na DMO em algumas áreas corporais, mas outras só são beneficiadas com atividades de impacto no solo.

Num outro estudo, concluíram que mulheres que caminham 4 horas ou mais semanais tiveram um risco de fratura na anca 41% menor em comparação com mulheres que caminhavam menos do que 1h hora por semana. Em relação à velocidade, as que caminhavam mais rápido tinham 65% menores chances de fraturarem em comparação com as mais lentas. Quando a análise era da duração e da velocidade em conjunto, esta última permanecia o fator mais significativo, sugerindo que as forças de impacto no solo, resultantes de uma maior velocidade, desempenham um papel importante na saúde óssea.

Em síntese, as observações aqui discutidas ressaltam, de maneira clara e consistente, que a carga mecânica desempenha um papel crucial na reparação de fraturas e na sustentação da saúde óssea e musculoesquelética. A importância do suporte de peso controlado, particularmente durante a reabilitação, é evidenciada como um elemento determinante na prevenção de complicações como atrofia muscular e perda de mobilidade. Além disso, o destaque nas atividades de impacto, como a caminhada, sublinha a necessidade de considerar não apenas a duração, mas também a intensidade desta atividade para alcançar benefícios ótimos para a densidade mineral óssea. Em conjunto, os resultados sugerem que a exposição gradual da carga mecânica é essencial para uma recuperação bem-sucedida e a manutenção da saúde integral do sistema ósseo.

Referências

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Cristiana Correia

Fisioterapeuta

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